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Ep. 2 | Quando o corpo perde o brilho

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Livro fazer vídeos com telemóvel para as redes sociais, Carolina Monteverde, Smile Stories

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Transcrição:

Carolina: Bem vindos ao Brilho Sem Filtros, o podcast para quem acredita que o mundo será um sítio melhor se resgatarmos a nossa autenticidade e fizermos o caminho de regresso à nossa essência, ao nosso brilho. Sem filtros. Eu sou a Carolina, sou a voz pela autenticidade e acredito que se estás a ouvir este podcast é porque também fazes parte da comunidade de pessoas que querem transformar o mundo num sítio melhor. E se me acompanhas desde o primeiro episódio sabes que não estou sozinha. Estou a fazer uma experiência imersiva com a Elsa que está aqui comigo. Olá querida, bem vinda.

 

Elsa: Olá, obrigada!

 

Carolina: Explicar-te que se não conhecias ainda a Elsa é porque não viste o primeiro episódio do nosso podcast. E eu sugiro mesmo que tu vejas primeiro os episódios pela ordem porque há aqui uma linha narrativa ao longo de todo o nosso podcast que faz muito mais sentido que tu vejas o primeiro episódio, em que falámos sobre quando a vida deixou de ter brilho e neste episódio vamos falar sobre quando o corpo perdeu o brilho. Então, mas primeiro que tudo querida, vou te fazer uma pergunta que provavelmente fazem muitas vezes.

 

Elsa: Ah, sim?

 

Carolina: Mas eu hoje queria te pedir que não me respondas assim em piloto automático, como aliás nós fazemos muitas vezes, que penses, que sintas sobretudo a resposta. Tomas o teu tempo que precisares e depois respondes. Combinado. Como te sentes? Hoje, aqui e agora? E enquanto pensas, vou convidar-te a ti que estás em casa a ouvir-nos, se puderes, a parar também um bocadinho. Eu costumo pôr assim uma mão no coração, uma mão na zona abdominal, respirar profundamente e é só observar o corpo, sem julgamento, só observar. Será que me dói alguma parte do corpo? Será que tenho alguma tensão? Como é que está o meu corpo? Será que tenho o coração acelerado? Só observar. Sem julgar. Se conseguires fazer esse exercício, ótimo! E vamos esperar até que a Elsa esteja pronta para responder. Como estás hoje, querida?

 

Elsa: Então, eu hoje sinto muito bem. É como se… Eu venho a sentir a primavera a chegar e hoje sinto muito bem. Não vou dizer que o meu coração não está um bocadinho mais acelerado, porque está. Porque sinto aqui alguma pressão com as câmaras e continuo a sentir e provavelmente sentirei sempre, não sei. Mas sinto muito bem, sinto muito bem.

 

Carolina: Que bom. Essa pressão com as câmaras que tu referes, eu quero só explicar a quem nos ouve que nós estamos a gravar o segundo episódio do podcast sem que tenha saído nenhum episódio ainda. Portanto, intencionalmente e para efeitos da jornada que estamos a fazer aqui em conjunto, durante a gravação dos três primeiros episódios a Elsa não vai ver rigorosamente nada. Isto faz parte do processo, querida. E eu gostava que tu confiasses nesse processo também e sei que confias.

 

Elsa: Confio.

 

Carolina: E é bom saber e sentir essa tua verdade que continua a ser desconfortável. Para mim, já no primeiro episódio disseste que era estar aqui em frente às câmaras. Para quem não nos está a ver e está só a ouvir, nós temos duas câmaras. Hoje são só duas, aqui da transmissão cápsula que nos estão a filmar. Então, tu continuas a sentir esse desconforto?

 

Elsa: Continuo.

 

Carolina: Que bom. E sentes isso no teu corpo onde? Conseguirias identificar um lugar?

 

Elsa: Perfeitamente, no coração.

 

Carolina: Que lindo. Então, eu vou começar, se calhar, este episódio por partilhar contigo uma frase maravilhosa que eu tirei de um vídeo do Gábor Maté, aquele médico que fala muito sobre o trauma.

 

Elsa: O trauma, sim.

 

Carolina: E é incrível que este vídeo, pronto, veio ter comigo entre os dois episódios, achei  genial, e ele fala sobre a autenticidade. Diz "A autenticidade é a capacidade de saber o que sentes, estar conectado com o teu corpo e manifestar quem somos, nas nossas atividades e relações”. Eu vou repetir. “A autenticidade é a capacidade de saber o que sentes, estar conectado com o teu corpo e manifestar quem somos nas nossas atividades e relações.". Então, eu começava por aqui, que é, com que frequência é que nós, no nosso dia a dia, paramos para ouvir o nosso corpo? O que eu sinto é que andamos, muitas das vezes, muitos de nós, numa correria tal que faz com que nós nos desconectemos fisicamente do nosso corpo, não é? Como se a nossa mente ganhasse vida própria e o corpo fosse meramente funcional para corresponder às necessidades práticas da nossa mente.

 

Elsa: Eu acho que a maioria de nós anda mesmo desconectado, nem sequer pensa nisso. Eu própria recordo que a dada altura estava num momento difícil da minha vida, estava a fazer a minha terapia e não sabia coisas simples como tomar algumas decisões, eu não sabia, não sabia tomar decisões. Ficava muito indecisa nas decisões que havia de tomar. E lembro que na altura a minha terapeuta me disse "mas as decisões são muito simples de se tomar porque basta escutarmos o corpo". E ela disse isto e eu pensei "eu não sei fazer isto" e pedi-lhe ajuda "como é que escutamos o corpo?" E ela disse "escutando, parando, parando e reparando nas reações do corpo. E vai ter todas as respostas que precisa. Faça uma pergunta, escuta o corpo. E vai perceber como o seu corpo fala consigo e sempre falou".

 

Carolina: Sim, mas isso em teoria faz muito sentido. E eu também tenho feito esse caminho, mas na prática é difícil porque nós fomos tão habituados a desconectarmos, pelo menos a nossa geração, eu sinto isso, crescemos tão desconectados que é como se fosse um músculo que perdeu vitalidade. E então é com o se nós tivéssemos perdido a capacidade de ouvir o corpo. E eu acredito que o corpo é uma marionete nas mãos da mente. E que ele exterioriza sempre aquilo que vai na nossa mente. Tanto coisas assim mais simples como traumas, medos, angústias, está tudo refletido na forma como o nosso corpo se exprime.

 

Elsa: Está tudo no corpo. Mesmo que não consigas ver nas expressões do corpo, está no corpo. Está mesmo no corpo. É uma coisa incrível. Eu acho que não é só a nossa geração que está desconectada. Não acredito que os nossos pais estivessem conectados, nem os nossos filhos. E, portanto, é uma aprendizagem que tem que ser feita. Mas o que eu acredito é que não é difícil. Se tivéssemos essa consciência e se começássemos a escutar o corpo, para mim foi muito fácil voltar a conectar o meu corpo. Ou conectar-me pela primeira vez, talvez.

 

Carolina: E como é que foi essa primeira vez?

 

Elsa: Eu não me lembro exatamente da primeira vez. O que eu me lembro é do processo que fiz. O processo de para e perceber o que é que o meu corpo… Estou a recordar uma conversa que tive com a minha filha esta manhã e que ela me dizia "Mãe, eu estou a treinar sentir o meu coração com a minha mão e eu não consigo. Eu não consigo. Quando ponho a mão no coração, não sei o que é que se passa comigo, mas eu não consigo sentir o coração". E eu disse a ela "Treino. É só estar suficientemente quieta e suficientemente calma e suficientemente atenta e começas…". Eu, neste momento, sinto coisas, por exemplo, pequenos toques nos dedos do pé, sabes? Consigo sentir até os ínfimos, coisas muito pequenas, mas é um treino. É preciso criar espaço dentro de nós. É preciso acalmar a mente. É preciso acalmarmos, de uma forma geral.

 

Carolina: É engraçado dizeres isso da tua filha, porque eu também, hoje de manhã, tive um episódio muito curioso com a minha filha. Ela acordou a dizer "Mãe, estou a sentir-me doente, tenha o corpo meio estranho" Eu perguntei "Filha, queres ficar em casa?" porque ela está na escola. Ela disse "Não, não, quero ir à escola, tenho coisas importantes, uso um trabalho importante para apresentar na escola, quero ir à escola". E fui ver ela, não tinha febre, percebi que não tinha febre, disse "pronto, tudo bem". Fui preparar o pequeno almoço e pus-lhe um benuron e disse "Olha filha, durante o dia se sentires que estás a ficar com febre toma o benuron para não passares mal" e ela disse "não, eu quero tomar já, porque o meu dia vai ser difícil e eu disse-lhe "Filha, mas se tu tomas já o benuron, vais anestesiar o teu corpo e não te vais permitir a observação de perceber o que é que efetivamente se passa contigo". O que é que aconteceu? Ela tomou o benuron. E agora estava a ouvir-te a pensar que, de facto, nós precisamos de criar esse espaço e ela hoje ia ter um dia super corrido e ela não tinha o espaço para parar e ouvir o corpo.

 

Elsa: Sim.

 

Carolina: E isto assusta, não é? Quando nós pensamos que, bolas, os nossos filhos também já estão a entrar nisto, não é? A tua filha só agora é que está a aprender a ouvir o coração dela.

 

Elsa: O sentir na mão o coração, está a ver? Mas eu acho que as nossas filhas, eu acho que sinceramente… Pá, eu sou uma hopeless romantic e, portanto, eu acho mesmo que há muita gente a despertar. Eu acho mesmo que a geração dos nossos filhos estão muito sensíveis a temas que nós não estávamos. E cada vez mais há movimentos de dança, cada vez mais há terapias que envolvem o corpo, cada vez mais as pessoas estão a trabalhar os seus limites, até onde é que permitem que o outro chegue, que o outro toque, que o outro faça, que o outro tenha alguma intervenção sobre nós, até mesmo energética. Portanto, eu acredito que elas vão fazer muito melhor do que nós fizemos, sinceramente.

 

Carolina: Sim, tem mais ferramentas. Nós estamos a fazer esse resgate e é isso que tu estás a dizer, é há várias formas de nós reaprendermos esta escuta ativa ao nosso corpo, não é? Porque isto de pararmos, do que fizemos no início deste episódio, não é? Só fecharmos os olhos, respirarmos e olharmos para dentro é uma forma de fazer esta escuta, mas quando dançamos é outra forma de fazermos esta escuta, não é? E bem bom que falaste na dança, porque eu recentemente tive um episódio para mim super revelador da importância da forma como o corpo fala connosco no Path of Love. Eu falei no primeiro episódio, como te disse, que até velhinhas, havemos de falar nesta história, porque eu fui sempre aquela pessoa, mulher, pessoa, que achava que não gostava de dançar. Então eu ia sair com as minhas amigas, adorava ir sair com elas, mas eu era a que ficava a vê elas dançar e tinha mesmo prazer a vê elas dançar, achava que elas dançavam lindamente, achava que eu não tinha jeito para dançar e não tirava particular partido da dança. Então o que eu percebi agora, quando fiz este retiro, foi que eu estava presa no meu próprio corpo. Não vou agora aprofundar este tema porque dava vários episódios, mas a questão é, o meu corpo estava a falar comigo nesta aparente incapacidade para dançar. Não há nenhum corpo que não saiba dançar. Eu quis me convencer que eu não sabia dançar para justificar o lugar onde o meu corpo estava naquele momento. Então, quando eu soltei essas amarras, eu descobri não só um prazer imenso a dançar como um lugar de energização brutal, não é? É um sítio onde eu acedo e que, uau, imediatamente estou viva, não é? E é também, não só olhar para o corpo, mas é permitir que o corpo me traga a mim também essa energia, que é brutal.

 

Elsa: É mesmo. Eu, durante muito tempo, o que eu senti é que havia em mim uma separação da mente e do corpo e que eu funcionava muito na mente e na intelectualização das emoções e das coisas e que não tinha a capacidade de levar isso para o corpo. E fazer esta ligação entre a mente e o corpo parece uma coisa muito óbvia, mas não é. E às vezes há pessoas que estão muito no corpo, mas também não conseguem fazer a ligação. É como se não... Há mesmo uma separação, e isso também já vem de Descartes, que há esta separação entre o corpo e a alma e a mente. Então, acho que esta dança, esta conjugação das duas partes é muito importante. Portanto, o corpo é o que nos traz à vida. Nós caminhamos no planeta Terra com um corpo e a maioria das pessoas não vive no seu corpo, não conhece o seu corpo, não lhe reconhece os apelos, os pedidos de ajuda. Então, não é nada difícil, mas as pessoas não estão habituadas a fazê-lo, é só isso. É só isso. Mas, para mim, é muito natural que nós consigamos com facilidade escutar o corpo. Não só escutá-lo, mas interpretá-lo e ajuda-nos tanto, no nosso dia a dia, nas nossas decisões, no que é certo e no que é errado. Estar atento a pequenos sinais de desconfiança, pequenos sinais de "não vou para ali, não vou por aqui, não gosto muito desta pessoa, não apetece fazer isto". Então, é só estarmos um bocadinho atentos ao corpo.

 

Carolina: É um bocadinho que é muito, não é? Com a forma como montámos as nossas vidas, nesta fase inicial o que eu sinto é que exige um grande esforço da nossa parte, por isso é que eu escolhi dedicar um episódio inteiro a este tema, porque acho que é mesmo importante falarmos sobre isto. E da quantidade de ferramentas que existem atualmente disponíveis à nossa disposição para nós acedermos a elas. Nós não precisamos de escolher só uma, nem uma exclui a outra, pelo contrário. Devemos encontrar aquela ou aquelas com as quais nos identifiquemos mais, não é? Eu no meu caso, em particular, agora que descobri que adoro dançar, ando a testar vários tipos de dança, de Biodance, Extractive Dance, Soul Dance, vou tentar várias coisas porque eu gostava mesmo de criar uma rotina na minha vida de dançar aí uma vez por semana. E encontrar aquela com a qual eu me identifico mais, mas para isso eu vou ter que experimentar, não é? E vou ter que dedicar tempo, não é? E dedicar tempo para mim é colocar a energia nesse lugar, não é? E quando eu escolho colocar a minha energia num lugar dedicação ao corpo, eu estou também a fazer essa observação, não é? Eu estou a permitir trabalhar este músculo. Porque para mim, assim, metaforicamente, é como se existisse um músculo entre a cabeça e o corpo que ficou flácido e eu agora tenho que ir assim devagarinho, não é? A fazer flexões, flexões, e ele agora já está, agora já o consigo sentir, sabes? Mas depois há dias que dói, e no dia a seguir, sabes? Quando tu trabalhas muito o músculo, dói, porque de facto tu ficas ali um bocadinho do que é que é isto, e neste momento o que eu sinto é... Eu consigo por vezes até perceber se me dói o lado direito, por exemplo, eu sei que há alguma coisa na minha energia do masculino, porque o nosso corpo do lado direito representa a nossa energia do masculino, que está em causa, não é? Se for alguma coisa do lado esquerdo, é alguma coisa na energia ao nível do feminino e isto de estarmos atentos. O nosso corpo é tão genial na forma como comunica connosco, que eu acredito mesmo que se nós conseguirmos desenvolver este músculo imaginário dentro de nós que vai ser mais fácil encontrarmos o equilíbrio, porque no final do dia eu acho que o que nós buscamos é o equilíbrio em tudo na nossa vida, não é? E equilibrarmos mais aqui o corpo, menos mente e mais corpo para encontrarmos aqui um ponto em que elas convivem na perfeição.

 

Elsa: Sim. O que eu acho também é que o corpo pode ter várias maneiras de se exprimir, de se expressar, não é? E para umas pessoas pode ser a dança só recreativa. Para outras pessoas pode ser desporto, para outras pessoas pode ser uma dança terapêutica, não é? Há trabalho energético e terapêutico com o corpo, pode ser yoga, pode ser caminhar, mas o corpo tem que encontrar o seu caminho. Tem que encontrar o seu lugar, tem que encontrar o seu espaço. E nós temos que saber mesmo escutá-lo. Eu acredito profundamente que o meu corpo me dá muito mais informações do que a minha mente. Muito mais informações. É maior, ocupa mais espaço, e ele fala comigo, ele fala mesmo comigo. E se nós estivermos suficientemente atentas, nós sabemos que algo está errado. Quando algo está errado, eu, por exemplo, trazendo um tema que não sei se tem nada a ver, mas já está, vou trazê-lo, eu tenho 50 anos, vou fazer 51, eu não me lembro, e agora aqui isto é que é polémico, a última vez que fiz uma mamografia. Eu não preciso. Eu não preciso. Eu sei exatamente, e sou acompanhada pela minha ginecologista que tem a mesma opinião do que eu e quando lá vou faço o que tenho a fazer, nada médico e eu própria faço também o meu check-up e eu conheço, eu conheço o meu corpo, eu sei quando algo não está bem, eu não preciso que ninguém me diga. E sim, a medicação e a maneira como nós tomamos medicação para evitar ou porque nos estamos a sentir mais ou menos doentes só disfarçam os sintomas que nós precisamos que venham ao de cima e que sejam... E que se percebam. E com isto não estou a dizer que os exames não são necessários, não estou a dizer que a medicação não é necessária, cada um faz a sua gestão, mas eu uso-a com muito cuidado e com muita atenção. Portanto, para mim o corpo cada vez mais é um grande aliado na minha vida.

 

Carolina: Eu concordo contigo e vou te dizer, eu sou super saudável, aliás quando vou àquelas consultas de check-up e me começam a fazer aquelas perguntas todas, eu digo "olha, eu tenho um currículo médico é super aborrecido, nunca se passou nada na minha vida, só estive internada duas vezes na vida para ter os meus dois filhos.” Então nunca se passou assim medicamente, quer dizer, quando eu era criança, sim, pequenina, sim, aí levei a minha dose, acho que para a vida toda, mas na minha vida adulta eu sou muito saudável. E porquê é que eu sou muito saudável? Porque eu estou muito conectada com o meu corpo. E eu vejo logo o sinal, não é? Quando me vem a dor de cabeça, eu antigamente, eu sofri de enxaquecas a vida toda. Vinha a enxaqueca e eu tomava comprimido para a enxaqueca. E foi quando eu parei e comecei a questionar porquê é que eu tenho a enxaqueca. O que é que despoletou esta dor de cabeça que eu comecei a perceber o que é que o meu corpo me estava a querer dizer. Por vezes eram situações práticas, ou estar num ambiente com ar condicionado, por exemplo, o meu corpo dá se mal com o ar condicionado e outras vezes eram pessoas com as quais a minha alma se dava mal e se manifestava na dor de cabeça.
Elsa: Outras vezes é a vida mesmo, aquilo que nós fazemos.

 

Carolina: E outras vezes é a vida e a atenção. Então, quando eu comecei a prestar atenção a estes sinais nas dores de cabeça que o corpo tinha ou quando eu ficava assim um bocadinho com o peito pesado, a sentir um bocado de ansiedade ou às vezes na prática de yoga, eu pratico yoga há 10 anos e yoga é maravilhoso porque durante a prática o corpo fala mesmo contigo, não é? Então, às vezes vem uma dor no joelho direito. "Ah, é alguma coisa aqui na tua mobilidade, na energia do masculino." Então, eu vou prestando atenção a esses sinais e eu acredito que é por prestar atenção e ir ajustando, reajustando a agulha que eu evito chegar à doença.

 

Elsa: Isso. E cada vez mais esse é um tema que tem surgido muito na minha cabeça que é a prevenção. A prevenção emocional. Que há muito pouco. As pessoas procuram ajuda quando já estão no limite no corpo ou emocionalmente. Já nem estou a falar de doença mental, não vou para aí. Porque eu acredito que muitas doenças mentais vêm da doença emocional. Então, a prevenção E esse é... Depois já chegamos a esse ponto que é "Eu estou bem, tive um dia incrível, porquê é que o meu corpo está incomodado? Porquê é que eu estou incomodada? O que é que se passa? Aqui qualquer coisa. E às vezes eu não consigo logo identificar, por vezes eu nem consigo identificar exatamente onde está no corpo. "Ok, mas onde é que é? Onde é que é? Estão nas costas, é aqui... Onde é que é?" E depois começa a rever o meu dia e a tentar encontrar a situação, a pessoa, o que quer que tenha acontecido que me despoletou aquele mal estar no corpo. Então é uma comunicação incrível que isto pode levar um bocadinho a ficarmos mesmo obsessivas com isto. Porque depois vem outra coisa que eu acho muito importante, não é só "ok, o corpo dói, o corpo está a dar me aqui sinais, o que é que eu faço com isto?" E muitas vezes o que eu faço com isto é o meu corpo tem que falar, não é? Eu tenho que pôr isto cá para fora de alguma maneira, tenho que bater com as pernas, tenho que ir para a natureza, tenho que fazer qualquer coisa, mas eu não posso deixar que isto fique aqui armazenado desta maneira no meu corpo. Mas isso é mesmo um caminho, é mesmo... Eu diria que isto é, se houvesse um fim de linha, isto é o ideal, não é? Nós chegarmos aqui a estarmos constantemente atentos. Eu tenho esta sensibilidade quando eu reparo que a maioria das pessoas anda acelerada, mas não é só a conversa anda acelerada, o raciocínio mental é muito acelerado. E quando tu paras e pedes à pessoa para... O exercício que tu fizeste agora, no início, muitas pessoas têm muita dificuldade, não é? Chegam, por exemplo, a consulta e vêm lá fora, vêm de lá de fora, e querem manter um espaço que é suposto ser mais tranquilo e mais calmo, querem manter o mesmo ritmo, querem manter a mesma conversa, querem manter... E quando tu dizes, "tá, mas agora vamos respirar", e vamos chegar aqui. Vamos dar aqui um tempo para chegarmos. E as pessoas ficam assim "ah, o quê? Não… Sabes? Não há esse... É como se nós andássemos fora da nossa casa, fora da nossa casa, fora da nossa casa, fora da nossa casa, fora da nossa casa. Do nosso corpo. Nós andamos muitas vezes fora do nosso corpo.

 

Carolina: E o que nós estamos a fazer aqui, neste podcast, é isso. Nós não viemos aqui... Eu não vim aqui explicar que pegas no telemóvel assim, filmas assado, olhas para aqui, e diz isto. O que nós estamos a fazer, ao longo desta temporada toda, querida, é chegar aqui. Portanto, metaforicamente, e por isso é que eu adoro o vídeo como ferramenta para resgatar a nossa autenticidade, porque é uma ótima metáfora para a vida. É o que nós estamos a fazer é chegar aqui, a perceber, a tomar consciência, a tomar o nosso tempo, a tomar o nosso lugar. Não temos ninguém atrás de nós a dizer "pronto, agora já chega", não temos um guião, podemos falar do que quisermos e estamos a tirar o nosso tempo em prazer. Porque eu tenho um prazer imenso em estar aqui e tu ainda não tens, mas por aí...

 

Elsa: Tenho, eu tenho, eu não gosto é de câmaras.

 

Carolina: Mas vais passar a gostar delas, vais ver que vais passar a gostar delas, porque eu acredito mesmo que elas vão ajudar a fazer essa cura, mas acho que é importante enfatizarmos a questão que tu estavas a falar de deixarmos o nosso corpo libertar essas emoções. Eu esta semana tive uma situação que me irritei e ia no carro. Irritei-me. E numa chamada telefónica, atenção, ia em mãos livres, em alta voz.

 

Elsa: Ah, eu não estava a pensar nisso.

 

Carolina: Não, tu estás a rir porque eu já te contei essa história, mas eu vou contar essa história a quem nos está a ouvir. Irritei com uma pessoa com quem eu estava a falar ao telefone, mas estava ali em contenção e quando desliguei a chamada ia em plena marginal, desatei aos gritos dentro do meu carro. E pensei "não quero saber quem é que está nos carros ao lado, vão pensar que eu sou..." Aliás, se alguma vez me virem dentro do carro, pronto, alguma coisa eu preciso é de libertar. E então, quando eu dou aqueles dois mega gritos dentro do carro, depois aquilo automaticamente faz assim... É como uma panela de pressão, quando tu tiras o pipo. Eu uso muito esta expressão com as minhas amigas, que é tirar um bocadinho o pipo à panela de pressão. Lembras que os nossos avós tinham... Ainda existem aquelas panelas de pressão. Que tirávamos o pipo. É um bocadinho mesmo libertar a pressão e nós precisamos tirar o pipo ao nosso corpo. Nós precisamos que ele ponha cá para fora. Ele exterioriza e no meu caso o meu pipo foi muito também a dança. Descobri agora na dança esta forma como ele gosta de comunicar com o mundo, de estar no mundo, de se mostrar ao mundo. Mas também quando temos raiva se precisar de gritar no meio da marginal Eu grito "paciência!". E também as caminhadas de natureza, como tu dizias, é também uma coisa altamente terapêutica para mim. Abraço árvores. Adoro abraçar árvores. E vou, aliás, vou confessar aqui porque este é este espaço, este é o espaço de sermos autênticos e resgatarmos a nossa essência, uma coisa que eu nem sei se já partilhei contigo alguma vez, mas partilhei com muito poucas pessoas na minha vida e é uma coisa assim meia "uh, estranha", mas é o que é.

 

Elsa: Ah, eu gosto.

 

Carolina: Eu quando vou ao meu bosque, eu tenho um bosque, não é o meu bosque, eu gostava que fosse, mas é como se fosse, eu chamo o meu bosque carinhosamente e é um sítio no meio da natureza onde eu estou praticamente sozinha sempre. Eu tenho lá uma árvore, que é a minha árvore e eu quando vou abraçar a minha árvore, quando eu chego lá eu abraço a árvore, encosto assim o rosto no tronco, fecho os olhos e a conexão que se dá com a árvore é uma coisa que eu consigo ver quando fecho os olhos, é uma coisa estranha mas eu vejo com os olhos fechados como se fossem assim umas ondas de calor, imagina, umas ondas de calor que fazem assim um funil e então é como se eu estivesse a libertar tudo o que é carga e a árvore estivesse a receber aquilo, eu não sei explicar isto melhor. Mas visualmente é assim, eu vejo mesmo assim como umas ondas de calor e há vezes que eu vou muito acelerada ou chateada com alguma coisa, eu vou de passagem, chego lá, abraço, fecho os olhos e eu não consigo conectar. Então quando eu não consigo conectar, eu sei que pronto, ok, chega aqui. Então, normalmente o que faço é dar mais uma volta, acalmo e depois vou lá, abraço e só quando eu volto a ver estas ondinhas e estou ali e aquilo sabe-me tão bem, parece que estamos ali ligadas uma à outra. "Ah, aí é que foi.”

 

Elsa: Tive duas imagens enquanto falavas sobre isso. Bom, uma foi do avatar, não é? Pronto, já sabes, não é? Ligar... Não me digas. Que não viste o avatar.

 

Carolina: Ah, claro que vi, mas não tinha feito essa ligação. Que lindo!
Elsa: Sim, mas há várias vezes que há ligação, não é? Então tive essa imagem. Eu funciono muito por imagens. Eu tenho imagens. As coisas aparecem em imagens. E lembrei, não sei porquê, mas lembrei que a nossa conexão lembrei desta história que vou contar, porque a nossa conexão pode não ser só à natureza ou a árvores. Em 2018 eu fiz uma viagem ao Egito, numa altura em que eu não estava assim tão desperta para a profundidade da espiritualidade como estou agora e para a existência de energias súbditos que eu contacto e que eu vejo e que eu sinto. Estava no meu caminho, mas não estava na profundidade que estou neste momento. Fui fazer uma viagem turística ao Egito, fui fazer um cruzeiro pelo rio Nilo, que é uma experiência incrível. E a dada altura fomos ver, obviamente, as pirâmides. Eu estou a falar nesta história, estou a pensar nisto porque hoje em dia eu percebo que há muita gente que faz viagens espirituais ao Egito, incríveis, não é? Que vão lá a conectar... Enfim. Eu fui em 2018, eu sou altamente claustrofóbica e, portanto, primeiro era impensável eu entrar numa pirâmide. As pirâmides no Egito, tens de descer centenas e centenas de degraus e é um quadradinho, é um cubo pequeno, não é? E tu vais a descer e há pessoas que vêm a subir e são dezenas e dezenas de pessoas. E há muitas pessoas que se sentem mal. E para quem é claustrofóbico como eu sou, estava completamente fora de hipótese submeter-me, porque eu não nasci para sofrer, portanto eu não me vou submeter a isto. Isto para mim é um mantra, eu não nasci para sofrer. Por acaso tenho sofrido um bocadinho, mas pronto, evito. Não fui à grande, há várias, há umas maiores do que outras, mas houve uma pequenina que eu fui. E como era pequenina, era menos visitada, então lá fui, lá desci, com as minhas estratégias de olhar para um degrau de cada vez, lá desci. E quando nós chegamos lá abaixo, é uma coisa absolutamente... Eu não sei, eu entrei mesmo... E reforço isto, eu não estava numa fase da minha vida em que eu acreditasse em coisas... As pessoas estão para ali mortas, não é? E quando eu entrei, o que eu senti foi que eu entrei numa realidade diferente. Estavam lá duas ou três pessoas só, porque depois, lá em baixo, é aberto até lá acima, entendes? É assim uma coisa gigante. E a primeira coisa que eu fiz, que eu acho que fosse um imã, que eu não consigo explicar, eu quando dei por mim estava eu escarrapachada na parede, tipo osga. As pessoas ficavam assim a olhar para mim e eu... Ali. E eu de repente comecei a sentir-me como se eu fizesse parte de tudo e eu fosse tudo e a achar tudo aquilo muito esquisito e muito estranho. Eu não sei o que é que está a acontecer comigo. Provavelmente estou a ter um momento de loucura. E senti uma energia, uma coisa que me... Estive ali uns segundos. Estava cheia de vergonha o que as outras pessoas iam pensar de mim. Não sabia o que é que estava a acontecer. Mas eu senti uma conexão enorme com tudo. E tinha uma vontade enorme de não sair dali e ao mesmo tempo ir contar ao Nuno o que me tinha acabado de acontecer. Então é muito isto, estás a ver? Nós carregamos em nós informação que nos é passada e que nós recebemos, nós passamos a informação e é recebida. E é através de seres vivos, mas também através de coisas e de sítios e de pedras e de... Então, estavas me contar isso, eu percebo perfeitamente.
Carolina: Porque o nosso corpo é esse recetor também, não é? E o que eu acredito também é que para nós estarmos capazes de receber isso em pleno e estar conscientes de que mesmo que não sabemos o que é que se está a passar sabemos que alguma coisa se está a passar, que foi o que aconteceu nas pirâmides do Egipto. E a mim o que me acontece quando eu abraço as árvores é que nós não sabemos o que é que se passou, o que é que se passa, mas confiamos no processo, mas também acredito que para fazeres isso, tu tens que estar muito conectada com o teu corpo. E isso passa por, e eu queria aproveitar este momento, integrarmos as nossas emoções negativas. Queria aproveitar este momento para acabarmos com o discurso de "vamos nos libertar das emoções negativas" e não precisamos das emoções negativas e isso é uma coisa má, horrível e pesada. Primeiro eu acho que a palavra "emoções negativas" é péssima. São emoções desagradáveis, é verdade. É desagradável sentir frustração, raiva, ira, medo, vergonha, culpa é muito desagradável, mas isto não é negativo. Isto faz parte da nossa natureza humana e todas as emoções têm uma função que nós temos que estar atentos e se nós ignorarmos as nossas emoções negativas, nós nunca vamos conseguir perceber o que é que o nosso corpo nos está a querer dizer quando as sente. A minha querida Kátia Almeida, que é psicóloga, diz uma frase muito bonita que eu adoro, que é "as emoções são mensageiros". São os nossos mensageiros para o que é que E quando nós sentimos raiva, quando nós… A raiva, concentra- se muito nos maxilares, quando nós serramos os dentes. A raiva está aqui por algum motivo, se eu tiver com os dentes serrados eu tenho que perceber porque é que isto me está a acontecer. Não é por acaso, não é só porque... Não! Porque é a forma que o corpo tem de falar connosco. Eu gostava mesmo de convidar as pessoas a abraçarem, a olharem, a integrarem, a respeitarem até um raio de raiva. E que encerrarem essas emoções desagradáveis. Eu vou deixar de chamá-las negativas na minha vida porque isso passa por aceitarmos isto também. E por... Por exemplo, quando eu fiz esta partilha agora da árvore o que é que eu sinto? Eu sinto muito vulnerável a fazer esta partilha porque penso o julgamento, o que é que as pessoas vão achar? Ela é meio trululu, ela sente coisas quando se abraça à azar. Isto não existe, não é? Mas quando eu integro esta emoção, ok, o que eu tenho é o medo, o julgamento, eu posso enfrentar este medo? Está tudo bem, eu vou partilhar. O que é que aconteceu a seguir? Recebi uma história linda tua das pirâmides que eu não conhecia, que eu não teria recebido se eu não tivesse feito esta partilha. Então, é nesta generosidade e nesta beleza da vida que eu acredito, que é quanto mais nós nos fomos abrindo e integrando tudo à matéria de que somos feitos e não é só a parte bonita. Temos muitas coisas lindas, maravilhosas em nós, não é? Mas temos coisas muito feias, escuras e pesadas, que também precisam de ser eliminadas, que também precisam de ser integradas e que também se manifestam no corpo, sobretudo as negativas. As emoções negativas são aquelas que, se nós não deixamos sair pelo corpo, viram doença. Eu acredito mesmo nisto.

 

Elsa: Ah, viram. O Gabor fala muito nisso. Há um livro só sobre isso. Sobre como as doenças, como a falta de expressão emocional, leva à doença.
 
Carolina: Eu uma vez tive um episódio, para mim foi o momento, sabes quando tu sentes, isto é um momento de transformação na tua vida entre a Carolina desconectada do corpo e a Carolina que começou a perceber que tinha que olhar para o seu corpo. Eu ainda estava na minha primeira vida profissional, trabalhava na banca, na altura na Avenida da Liberdade, portanto eu fazia a A5 para entrar em Lisboa, às 8h30 da manhã, como milhares de pessoas fazem todos os dias, apanhava aquele trânsito todos os dias de manhã, aquela era a minha rotina, e houve um dia de manhã em 2011, que foi um ano horrível para mim, foi o ano em que morreu o meu pai, morreu a minha avó, enfim, aconteceram variadíssimas coisas muito difíceis na minha vida, num dia de manhã eu ia na A5 em Pararranca, ali a subir o alto e eu estava a tanto, sabes? E em Pararranca ia completamente embrenhada nas minhas tristezas na altura e naquela confusão mental e que eu estava... E estava naquele Pararranca e de repente, pum, o carro de trás bate-me. E eu pensei "Eu não estou a acreditar nisto, só me faltava agora isto, só me faltava depois de tudo o que me está a acontecer este carro bater-me. Então eu estava nesta reflexão, a olhar para o volante completamente incrédula, quando vejo o condutor do carro atrás, um senhor aos saltos furioso, no meio da autoestrada, na minha janela, aos gritos comigo. E eu olhei para ele, assim, um bocado, com medo dele, abri a janela e ele estava aos gritos, "a senhora bateu-me, a senhora bateu-me!" Eu? Eu? Eu não lhe bati?, "Sim, a senhora bateu!" E eu "Eu? Eu não lhe bati?" "Sim, a senhora bateu!", "Desculpe, você bateu por trás, eu não lhe bati." E ele aos gritos, completamente passado, ele dizia, "eu estava a lhe abuzinar, eu estava a lhe abuzinar há imenso tempo." E quando ele me disse, "eu estava a lhe abuzinar", eu tive um momento em que eu pensei "Eu tenho uma vaga ideia de ouvir uma buzina." E eu disse-lhe isso. E olhei para ele e disse "Eu de facto tenho uma vaga ideia de ouvir uma buzina." E ele nesse momento, eu acho que o senhor deve ter achado, se o senhor nos tiver a ouvir agora neste momento, ele devia achar que eu estava sob efeito de drogas ou de medicação, que não estava, mas eu devia estar com o ar completamente alucinado, porque ele parou imediatamente com aquela agressividade verbal e física com que estava e disse-me "então a menina não viu que o seu carro estava a descair, a descair, a descair e que eu estava a abuzinar?" E eu "Não, mas agora que me fala na buzina, eu tenho uma vaga ideia. Ele: "Ah, então vá, vamos ver os carros, vamos ver os carros, estava tudo bem, viemos à nossa vida." Quando entrei no carro outra vez, eu não conseguia arrancar, tive um ataque de choro brutal e pensei "Eu já não estou aqui, eu já não estou no meu corpo." Sabes?. Eu estava totalmente desconectada do meu corpo, estava só no meu mental a sofrer as minhas dores, mas o meu corpo foi...
 
Elsa: Dissociada?
 
Carolina: Dissociei. Totalmente. Então para mim esse foi o momento em que eu disse "Acabou isto." Porque daqui para uma doença grave é um saltinho. E foi a partir daí que eu comecei a prestar atenção ao que estava a passar em mim. E tive muito menos momentos desses de piloto automático. Porque para mim o piloto automático é grave porque representa essa dissociação. Quantas vezes nós andamos aqui em piloto automático e o nosso corpo está funcional, só a corresponder.

 

Elsa: Sim, mas tu já estavas mesmo na dissociação. Nem chama isso mental. Para mim é mesmo... Quando alguém se dissocia, sai do corpo, sai da mente, sai, não vive. E há imensa gente a viver assim.

 

Carolina: Pois tu deves ter... Essa é a mesma tua área, não é?

 

Elsa: Sim, há muita gente a viver assim. E eu sei isto porque eu já vivi assim. O que eu acho que é bonito, e acho que as pessoas não devem ter vergonha disto, que é o despertar normalmente acontece por um momento destes de crise em que nós percebemos a partir daqui isto não vai correr bem, não é? Tivemos a consciência disso e procurámos ajuda. Muitas pessoas não procuram ajuda, medicam se, tentam não ver o que é preciso ser visto, não fazem as mudanças na vida que são precisas ser feitas e porque se tu tivesse mais anos a fazer isso, que eu também fiz, viver nesse piloto automático e o tem de ser e há contas para pagar e nós temos que todos os dias passar por esta fila, faz parte, olha lá, tanta gente faz isto, isto é normal, é a nossa vida, é isto. E é um dia que nós dissemos "já chega", não é? E tivemos a coragem de dizer "já chega". Mas é mesmo isto, é dissociação, há pessoas que vivem dissociadas.

 

Carolina: Sim, e estavas a tocar aqui num ponto super importante do pedir ajuda. Eu sou a pessoa que pede a esse nível ajuda a todo o tipo de pessoas e terapias e tudo. Eu vou a todas. As coisas que fazem eco em mim e a cada momento da minha vida. O yoga, como eu disse há 10 anos que já pratico, enfim, tem me ajudado brutalmente e tem sido uma permanente, mas fiz psicoterapia, vou ao osteopata, até costumo dizer que vou lá só para fazer a revisão, só para ver se está tudo bem, acupuntura, massagens, tudo o que são abordagens… Cristais, óleos, de pessoas que eu acredito que têm as ferramentas que me ajudam nesta leitura do meu próprio corpo. Ainda recentemente descobri uma Elian na minha vida que é uma mulher que faz uma massagem terapêutica que para mim o que ela faz é ler a alma através do corpo. Ela consegue tocar no teu corpo e dizer o que é que a tua alma te está a dizer que eu acho que é uma coisa genial, não é? E também recentemente, comecei a fazer a EMDR, já ouviste falar da EMDR, não é? Que é uma técnica que é usada por psicólogos que tem a ver com o movimento ocular e o que é genial é que tu consegues com o movimento ocular aceder a memórias potencialmente traumáticas tuas e curá-las. Isto é uma técnica usada só para cura de trauma pontual, atenção, não é? E eu não sou psicóloga, depois poderão falar com psicólogas sobre isto. Agora, o que eu vos posso dizer é que, no meu caso, o que eu acho extraordinário é que é a cura o corpo através do corpo, não é? Portanto, é mexendo os olhos que tu consegues aceder a memórias que estão guardadas no teu inconsciente, não é? Eu acedia memórias minhas de uma situação traumática que eu tive, de um internamento hospitalar aos 5 anos de idade. Que é brutal, não é? E como é que eu fiz isso? Mexendo os olhos, através do corpo. Não tive que me drogar, não tive que me alcoolizar, não tive que... O corpo tem essa capacidade de cura e de viagem. Nós conseguimos fazer essa viagem através do corpo.

 

Elsa: Cada vez mais existem imensas maneiras de chegar ao trauma e curar o trauma e fazer a catarse. E isso é essencial. E também pode ser feito o método tradicional de psicoterapia. Há pessoas que funcionam perfeitamente e conseguem aceder a memórias e conseguem fazer o trabalho que têm a fazer. Há outras pessoas que são um bocadinho mais, sei lá, mente mais aberta ou mais arrojadas aventuram por outros caminhos, como a terapia regressiva, com estados modificados de consciência. O que acedes é um estado modificado de consciência e consegues aceder ao teu inconsciente.
 
Carolina: Acho que... Eu não sei... Há pouco estavas a dizer que são pessoas mais evoluídas, não sei se são mais evoluídas, o que eu acho é que... Arrojadas. Arrojadas, desculpa, tens razão, a palavra foi arrojadas. Acho que tem a ver com a fase em que tu estás na tua vida. Eu pelo menos sou assim, eu sou super intuitiva, então essas terapias vêm ter comigo, eu sinto quando eu estou preparada para as receber e para as acolher. Sabes? Então, eu acho que se eu fizer uma terapia, uma regressão contigo, por exemplo, isso não invalida que eu depois possa eventualmente também fazer uma psicoterapia, não é? Acho que vai sendo um bocadinho o que vai fazendo o eco, mas sendo que umas complementam as outras, nenhuma substitui. E não há certo ou errado, só há esta intenção verdadeira de nossa cura, através do nosso corpo. E tu deves ter também no teu consultório muita essa experiência da manifestação através do corpo.

 

Elsa: Isso é o que existe mais, é o que eu tenho mais, são as catarses através do corpo. O corpo tem memórias de tudo o que nos aconteceu. Depois, dependendo das crenças de cada um, desta e de outras vidas. As regressões que eu faço podem ser um trauma desta vida, pode ser o parto, pode ser outro, mas também pode ir para outras vidas. Então, e é muito bonito ver o corpo a exprimir tudo isto, toda a dor, todos os gritos, todos os traumas que lá estão, e a fazer esta catarse e depois faz uma integração de tudo isso. É bonito e eu acho que assim como nós só conseguimos ter um número limitado de amigos ou os nossos companheiros, as terapias é a mesma coisa. Há umas que ressoam mais connosco, há pessoas que ressoam mais connosco. É uma dança em que tu vais vendo o que é que te apetece, o que é que vai surgindo. Eu sou muito curiosa e sou viciada em tudo que é terapia e retiros. E tudo o que possa expandir o que eu sinto. O que eu sinto não é evoluir, não é crescer, não gosto nada dessas palavras, não sinto isso, é expandir. O que eu possa expandir, o que eu me possa expandir, o meu pensamento, a minha energia, eu sinto maior, sinto que ocupo mais espaço, que estou mais forte, então tudo o que me traga isso, terapia energética, tudo o que me traga isso, eu estou lá, eu gosto, eu adoro. Tenho imensa curiosidade, ainda não explorei muito os psicadélicos, mas vou explorar, tenho imensa curiosidade. E, portanto, estou sempre pronta para novas aventuras, para novas descobertas, sempre.

 

Carolina: Que lindo, olha, eu tirei aqui uma citação do livro da Lisboa Reboque, eu acho que mas o muito bem que tu acabaste de dizer do livro "O Escudo ao Teu Corpo" que é maravilhoso e que eu recomendo muito que diz "Para atingir os objetivos a que todos os seres humanos aspiram a alegria, a paz, a serenidade e o bem estar, é necessário ter uma experiência consciente de tudo aquilo que se passa em nós a nível físico, mental e espiritual. Ou seja, é preciso saber escutar a mente e a alma que nos falam através do corpo.

 

Elsa: Mesmo.

 

Carolina: Então, é deste lugar em que nós estamos as duas super alinhadas e acreditamos mesmo nisto e que continuamos muito a trabalhar e aliás o meu trabalho neste momento é mesmo muito mais pelo corpo do que pelo mental, pelo espiritual. É tudo muito... Mede sempre muito o corpo que... Eu vou levantar um bocadinho do véu em relação ao primeiro episódio do nosso podcast.

 

Elsa: Como assim? Estás a falar do quê?

 

Carolina: Para te dizer que o teu corpo também tem estado a falar connosco.

 

Elsa: Ok…

 

Carolina: E está a falar neste preciso momento em que tu até ficas assim com as mãos para as minhas e assim um bocadinho nervosa de o que é que aí vai. E foi muito curioso porque tu não viste o primeiro episódio do podcast mas eu e a equipa já vimos e é muito curioso que tu começaste o primeiro episódio a falar muito baixinha. Sim. E depois foste ganhando confiança e no final já tinhas a tua voz. Já viste a beleza do simbolismo disto?

 

Elsa: Eu sou um bocadinho tímida. Sou, efetivamente. Mas sabes que eu tenho o meu podcast, que é uma coisa muito caseira, é uma coisa muito rudimentar e eu lá não sinto, não sinto este... A minha questão é ser observada, não é? Porque não estou só aqui contigo. É o ser gravado. Então é natural que eu me sinta... E hoje também, confesso porque se é para sermos honestas, eu sinto Eu hoje não me sinto tão bem como me senti no primeiro. Sinto-me mais... Não sei. Sinto-me um bocadinho mais presa. Sinto-me mais... Não sei explicar.

 

Carolina: Gosto, eu gosto disso, isso é super importante. Faz tudo parte do processo. Porque tu no primeiro episódio, tu como te disseste logo ao início, como quando por estarem aqui as câmaras, disseste "parece que não sou eu".

 

Elsa: Sim, sim, sim.

 

Carolina: E isso é muito curioso porque é a expectativa da imagem que eventualmente tu possas ter na câmara.

 

Elsa: Sim, que eu nunca gosto. Nunca gosto, nunca gosto das fotografias, nunca gosto

 

Carolina: Estás pronta então para ver um bocadinho?

 

Elsa: Ah, não sei! Vou ver.

 

Carolina: Assim, vais ver, live! Vais ver o primeiro episódio as we speak, o que me dizes?

 

Elsa: Ok. E vou ver onde?

 

Carolina: No meu telemóvel, que eu vou te mostrar agora.

 

Elsa: Mas eu preciso de óculos.

 

Carolina: Precisas de óculos? Não precisas, eu vou aumentar, não te preocupes.

 

Carolina: Então, cá estás tu, Elsa.

 

Elsa: Ok… Não consigo ver-me bem, graças a Deus. A minha voz é bonita. Eu gosto da minha voz.

 

Carolina: Queres ver mais um bocadinho?

 

Elsa: Não, não, não. Eu não lido bem com a minha imagem, vê-la… Tenho de admitir.

 

Carolina: Que é que sentes? Gostava mesmo que tu partilhasse o que é que sentiste agora a ver aqui a tua...

 

Elsa: Bem, tenho que te confessar, eu vejo mesmo muito mal. Aqui consigo ver te. Quando eu digo que não vejo é porque não vejo mesmo. Eu consigo ver te, porque já estás a ser uma determinada distância, mas eu vejo mesmo muito mal ao pé. Portanto, eu vi um vulto. Eu não gostei nada do que vi. Aquilo que vi, eu não gostei nada, porque o meu crítico interno e a minha rígida é muito exigente.

 

Carolina: E o que é que ele disse? Eu gostava, se tu tiveres à vontade para fazer essa partilha... Eu gostava que tu partilhasses.

 

Elsa: Eu sou rígida e não gosto daquilo que vejo, mas sou muito honesta e digo aquilo que sinto e que penso. Então, eu achei que estava empinada, achei que estava assim com... Até parece um bocadinho altiva, que é a coisa que eu acho que não sou. Mas achei que estava assim um bocadinho... Achei que estava meio amarela. É para dizer tudo o que eu achei, não é? O cabelo também não gostei nada. O cabelo está se foi para estranho. E é isso. Ok.

 

Carolina: Obrigada pela tua honestidade. É super importante. A primeira coisa... É muito curioso que a primeira coisa que tu disseste foi muito bonita, foi "Adorei a minha voz". Que é uma coisa muito rara. A maior parte das pessoas não gosta de ouvir a sua voz nos vídeos, portanto isso já é um uau.

 

Elsa: Eu gosto da minha voz.

 

Carolina: Linda. Pronto, maravilhoso. Em relação à imagem, o que eu vou convidar é as pessoas que nos estão a ouvir, escreverem aqui nos comentários do podcast, que tanto do Elsa como eu vamos ter acesso e vamos poder responder às pessoas, é quem é que reparou quando viu o primeiro episódio, quem é que reparou que tinhas a cabeça virada para cima e parecias altiva? Quem é que achou que o cabelo não estava bem? E quem é que achou que a Elsa parecia meio amarelada? E quem não reparou em nenhuma delas reparei nenhuma das questões que pudesse escrever: Não reparei em nenhuma das questões que a Elsa disse eu agradecia muito porque eu vou-te dizer, eu já vi este vídeo várias vezes e em nenhuma delas reparei em nenhuma dessas questões- Nós depois vamos falar sobre isto nos próximos episódios, está bem? Mas isto fui eu e depois tu verás os comentários das pessoas que nos estão a ouvir. Está bem? Para teres esse feedback também e não quero que também, não quero que ache "ah, ela está a ser aqui minha amiga". Não. Isto é mesmo um processo, não é? E é o que nós vamos fazer ao longo dos próximos episódios, é trabalhar isto e perceber de onde é que isto nos vem. Porque o nosso corpo também está a falar connosco quando nós fazemos esta crítica.

 

Elsa: Ah, mas eu sei de onde é que isto vem, mas aqui a questão é, eu faço estas críticas a mim mesma, mas depois vivo bem com isto. É como é. É como é. Pronto. Eu não acho, isto não quer dizer que eu tenha uma autoimagem, acho eu, que não quer dizer que eu tenha uma autoimagem distorcida. Eu sou e muito exigente comigo. Porque eu sei que não sou nenhuma top model e que não tenho 20 anos, tenho 50 e portanto que a pele já não é a mesma coisa e que, entendes, não é bem isso. Só que eu não gosto.

 

Carolina: Sim, sim. Eu entendo o que tu dizes. A questão não tem a ver com... Claro que a autoestima é importante e trabalharmos a autoestima é importante e o vídeo ajuda a trabalhar a autoestima é importante, mas tem a ver também com aquilo que vamos falar no próximo episódio que é trabalharmos sobre o músculo da amorosidade por nós próprios. Mais do que "tudo bem, eu tenho autoestima, mas consigo ver" é "vamos olhar para isto com amorosidade".

 

Elsa: Eu estou a lembrar de uma coisa que acho que é super interessante e nem a propósito, que é... Eu detesto falar... Pá, isto agora de repente caiu uma aqui uma ficha. Isto é terapia ao vivo, não é? Eu falei com o Nuno sobre isto este fim de semana e agora está a cair esta ficha. Eu, quando era miúda, na escola primária, eu tive uma professora que era uma cabra. Havia muitas professoras primárias que eram cabras. A mim caiu uma cabra. Ela era tão cabra, tu vais perceber porque é que eu digo isto. Eu sou ótima, sempre fui em letras, péssima matemática. Então ela chamava-me, quando havia exercícios de matemática a partir de quatro anos. Ela chamava me ao quadro, para estar ali perante a minha turma toda, e pedia para resolver problemas de matemática. E eu não conseguia. Ela humilhava-me, está a ver? Humilhava-me e depois, como se aquilo não bastasse, ela, naturalmente, tem um perfil aqui bastante sádico, não é? Como se não bastasse, colocava umas orelhas de burro, sabes, assim, em cartolina. Eu tinha que olhar para todos os meus... Estás a ver? E depois virava-me de costas e eu ficava de costas durante o tempo que ela achasse que era razoável com aquelas orelhas. Agora, é evidente que eu desenvolvi em mim durante quatro anos uma fobia por mais do que uma ou duas pessoas para mim e, portanto, eu nitidamente eu reativo estas memórias. Nitidamente. E agora caiu-me aqui esta ficha.

 

Carolina: Que bom, deixa vir. Deixa vir. É importante vires isso e o convite que eu te faço é revisitares as emoções que isto traz e deixas, sente essas emoções porque eu imagino que sintas humilhação, que sintas vergonha quando no teu lugar, não é?

 

Elsa: Sim. Bloqueio mesmo, sabes? Bloqueio. Depois tive que treinar isto.

 

Carolina: Mas espera, espera, espera. Vamos à emoção outra vez. Antes do bloqueio vem a emoção. Que emoções é que tu sentes quando voltas a esse lugar com as orelhas de burro em frente à tua turma toda?

 

Elsa: É vergonha, sim. Essencialmente é vergonha. É estar numa posição de grande vulnerabilidade e não ser acolhida nessa vulnerabilidade, não é? Mas essencialmente é isso, é exposição e da exposição não vem nada bom.

 

Carolina: Pronto, ótimo. Então, tocaste aqui num ponto ótimo para nós hoje encerrarmos aqui a nossa ação que é um espaço de enorme vulnerabilidade onde eu não fui acolhida, ou seja, eu não fui amada. Não te sentiste amada. Então, o que vamos trabalhar na nossa próxima sessão, neste caso no próximo episódio do nosso podcast, é precisamente isto. É o vídeo como espelho do teu brilho e vamos trabalhar este músculo da amorosidade. Então, hoje vou te convidar, logo à noite se calhar, quando for deitar, voltares a este piso, ou tiveres um bocadinho teu, tu tens os teus bocadinhos, não é? E depois de trazer este lugar e observares a emoção, só isto, é só observar a emoção, sem julgar, sem querer mandar embora, é só observar, voltar aí e perceber o que é que a emoção tem para te dizer, como é que ela se manifesta no teu corpo e o que é que ela tem para te dizer.

 

Elsa: Sim. Eu só gostava de dizer que eu já trabalhei isto, não é? Em várias alturas na minha vida e trabalhei, porque depois tive que falar muito para muita gente, não percebia que isto tinha uma ligação direta com a minha autoimagem. Este link eu não tinha feito, não é? Eu sou naturalmente introvertida e não gosto muito de exposição, mas não tinha percebido este link entre expor-me e vídeo. Vídeo e... Estás a ver? Isso eu não tinha feito esta conexão, que provavelmente vem daqui.

 

Carolina: Essa é a magia do vídeo. É por isso que o vídeo me fascina tanto, porque parece uma coisa assim tão aparentemente "simples", entre aspas, não é? E lá está, é uma ferramenta como tantas outras e que se complementam todas e que permitiu também fazer esta ponte. Então, queria também convidar a quem nos está a ouvir, se também sentiu algum clique, alguma ponte, se teve assim algum momento em que pensou "ah, nunca tinha pensado nisso". Partilhem aqui nos comentários do podcast. Eu vou responder a todos individualmente, prometo. Prometo, está gravado e filmado. Fica à vossa espera e no próximo episódio, para que consigamos resgatar a nossa autenticidade, juntos vamos todos brilhar sem filtros.
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